27/02/1843
Duelo de Bento Gonçalves e Onofre Pires
“Que los hermanos sean unidos,
Porque esa es la ley primera,
Tengan unión verdadera
En cualquier tiempo que sea –
Porque si entre ellos pelean,
Los devoran los de ajuera”
(Martin Fierro, de José Hernandez).
Bento Gonçalves da Silva, o grande Comandante da Revolução Farroupilha, era primo-irmão de Onofre Pires. Mais do que primos, eram amigos, há mais de 30 anos. E irmãos de armas.
Mas, registra a História, Onofre Pires “era murmurador e costumava falar mal dos outros pelas costas”.
Tinha inúmeras qualidades, mas esse péssimo defeito.
E por ter esse defeito, como é próprio de quem murmura e fala pela costas, ouvia diz-que-diz-que.
E acreditava em boatos e murmúrios mal-intencionados. Isso provocou a desunião no sonho farroupilha. A ponto de, no Cerro Topador, nas proximidades do arroio Sarandi – hoje município de Sant’Ana do Livramento -, em fevereiro de 1844, o Exército Farroupilha dividir-se em dois acampamentos.
Um era o acampamento de Bento Gonçalves. O outro, o de David Canabarro (a quem Bento passara a Chefia do Exército), no qual se encontrava o grupo que se opunha ao grande General Farroupilha: Vicente da Fontoura, Lucas de Oliveira e Onofre Pires.
Quando a desunião se instala entre irmãos, começa a ruir o sonho.
Porque o ideal precisa que os irmãos sejam unidos.
Quando, porém, a intriga prevalece, se desvanece o sonho. Ruem os ideais. Fenece a luta.
Mas… a História ensina que alguém sempre é usado, ainda que inconscientemente, como instrumento.
Foi o que, mais uma vez, ocorreu. Vicente da Fontoura e Lucas de Oliveira não tinham a mínima condição de duelar com Bento Gonçalves. Não eram homens da mesma estirpe. Longe disso.
Insuflaram, então, com argúcia e artimanhas, o Coronel Onofre Pires a difamar a honra e a reputação do grande General Farrapo. Era demás pra têmpera do gaudério Bento Gonçalves.
Escreve, então, uma carta a Onofre, exigindo que ele confirme, ou não, por escrito, as acusações.
O Coronel responde ao General, confirmando, por escrito e claramente, sem qualquer evasiva, esquiva ou malícia, tudo o que afirmara. Diante da resposta, Bento desafia Onofre Pires para um duelo, à espada. O desafio para o duelo é aceito de imediato e realizado na mesma data, no clarear do dia 27 de fevereiro de 1844.
Ao amanhecer, Bento monta no seu picaço e vai até a tenda de Onofre.
Grita: Onofre!
O Coronel logo aparece, com a cara de quem está acordando, e ouve a pergunta:
- Sabe por que eu vim?
- Vou encilhar o colorado – foi a resposta.
É da tradição do duelo.
As ofensas já foram ditas.
Mais importante: é a estirpe farrapa - respeito aos homens de honra.
Pouco tempo despôs, aparece Onofre, de cara lavada e montado no seu cavalo de confiança.
Afastam-se, lado a lado, no picaço e no colorado, em trote sem pressa, até um capão de mato, há cerca de 14 de légua.
Desmontam, desembainham as espadas.
Miram-se.
A vantagem, na ótica de Lucas de Oliveira e de Vicente da Fontoura, é toda de Onofre Pires, 11 anos más moço.
Além disso, embora Bento Gonçalves continuasse forte, aos 55 anos, e fosse um homem de bom porte, Onofre Pires era imenso: cerca de dois metros de altura e muito corpulento.
Mas esqueceram de uma côsa: era Bento Gonçalves.
O duelo é travado.
Brilham as espadas, faiscando no dia que amanhece.
Tinidos de aço espantam as aves, solitárias testemunhas do triste duelo.
Bento Gonçalves termina a luta de pé, com a ponta da espada ensangüentada pelo ferimento causado no antebraço direito de Onofre Pires, que deixa cair a sua arma.
Bento se aproxima e, com o seu próprio lenço, tenta estancar a hemorragia.
Busca socorro para o primo e irmão de armas.
É inútil.
Onofre Pires é atingido pela gangrena e morre, poucos dias depois.
Começa a morrer o sonho da República Rio-Grandense.
Newton Fabrício
Obs: o diálogo acima, entre Bento e Onofre, constitui trecho transcrito do livro “Os Varões Assinalados”, de Tabajara Ruas.
As três linhas seguintes ao diálogo correspondem a trecho extraído – mas modificado – da obra “A Guerra dos Farrapos”, de Alcy Cheuiche.
Obs 2: esse conto constará do livro “Causos, fandangos e domas de potros", a ser publicado.
Fonte: http://peleando.net
28/02/1845
Tratado de Ponche Verde
Artigos do Tratado de Paz - concessões obtidas do Governo Imperial, e que deram andamento a conclusão da Paz. 1o - O indivíduo que for pelos republicanos indicado Presidente da Província, é aprovado pelo Governo Imperial e passará a presidir a Província; 2o - A dívida nacional é paga pelo governo imperial, devendo apresentar-se ao Barão, a relação dos crédidos para ele entregar à pessoa, ou pessoas para isto nomeadas, a importância a que montar dita dívida; 3o - Os oficiais Republicanos que por nosso Comandante em Chefe, forem indicados, passarão a pertencer ao Exército do Brasil no mesmo posto, e os que quiserem suas demissões ou não quiserem pertencer ao Exército, não serão obrigados a servir, tanto em Guarda Nacional como em primeira linha; 4o - São livres, e como tais reconhecidos, todos os cativos que serviram a República; 5o - As causas civis não tendo nulidades escandalosas, são válidas, bem como todas as licenças, e dispensas Eclesiásticas; 6o - É garantida a segurança individual, e de propriedade, em toda sua plenitude; 7o - Tendo o Barão de organizar um Corpo de Linha, receberá para ele todos os oficiais republicanos sempre que assim voluntariamente queiram; 8o - Nossos prisioneiros de guerra serão logo soltos, e aqueles que estão fora da Província serão reconduzidos à ela; 9o - Não são reconhecidos em suas patentes, os nossos Generais; porém gozam das imunidades dos demais cidadãos designados; 10o - O Governo Imperial vai tratar definitivamente da Linha Divisória com o estado Oriental; 11o - Os soldados da república pelos respectivos comandantes relacionados, ficam isentos de recrutamento de primeira linha; 12o - Ofiiciais e soldados que pertenceram ao Exército Imperial, e se apresentaram ao nosso serviço, serão plenamente garantidos como os demais Republicanos. |
Este documento consta no Livro "A História da Grande Revolução", Tomo VI, pg. 282, de Alfredo Varella, Editora Livraria do Globo, 1933.
É importante observar o Art. 5º e o desrespeito ainda hoje do Art. 1º do Tratado.
Embora a história oficial apresente este tratado como assinado em 28 de fevereiro e 1º de março de 1845, pelos Farroupilhas e Imperiais, respectivamente, se faz mister informar que o documento original foi datado assim: "Campo de Alexandre Simões, 25 de fevereiro de 1845".
No cabeçalho consta "Artigos do Tratado de Paz - concessões obtidas do Governo Imperial, e que deram andamento a conclusão da Paz", deve-se notar que não há qualquer referência ao nome de "Tratado do Ponche Verde", como está registrado na história oficial.
Também importante é fato de que Bento Gonçalves da Silva e Souza Neto se recusaram a assinar este Tratado de Paz.
Outro fato de grande relevância e preponderante é o Tratado de Livre Comércio, através do qual a Inglaterra reconhece a independência gaúcha. Este Tratado é datado de 23 de Março de 1845, ou seja, um mês após a data da suposta assinatura do Tratado do Ponche Verde. Se os Farroupilhas continuavam buscando reconhecimento oficial internacional em Março de 1845, era porque não havia nenhum impedimento para tal, o que segundo muitos fundamenta a tese de que o Tratado do Ponche Verde jamais foi assinado, tendo sido apenas discutido, mas não formalizado. Isso também coaduna com o fato de que foram encontrados apenas rascunhos do Tratado do Ponche Verde; os originais nunca foram encontrados.
É importante observar o Art. 5º e o desrespeito ainda hoje do Art. 1º do Tratado.
Embora a história oficial apresente este tratado como assinado em 28 de fevereiro e 1º de março de 1845, pelos Farroupilhas e Imperiais, respectivamente, se faz mister informar que o documento original foi datado assim: "Campo de Alexandre Simões, 25 de fevereiro de 1845".
Também importante é fato de que Bento Gonçalves da Silva e Souza Neto se recusaram a assinar este Tratado de Paz.
Em nenhum dos artigos deste Tratado de Paz a independência da República Rio-Grandense é anulada ou extinta, permanecendo intacta.
Fonte: http://www.pampalivre.info
Por: Lucas Pinho de Mello