terça-feira, 28 de agosto de 2012

Payada do Laçador - Jayme Caetano Braum



Ele veio das potreadas
da estância e da tolderia
quando o gaucho nascia
da barbárie das arreadas,
tentos de garras trançadas
e a pericia no manejo,
o indio rude e andejo
sobre o lombo do cavalo
que tanto botava um pialo
assim como dava um beijo...




Em cada tento uma braça

dependurado no flanco,
indio - pardo - negro e branco
que definiram a raça;
por isso quando passa
quer de a cavalo ou de a pé
desde os tempos de Sepé
a legenda o multiplica,
a indiada o identifica
e as chinas sabem quem é!



Quando o laço arreboleia

no rodeio ou na mangueira
é a própria estirpe campeira
no serviço ou na peleia
e - na pegada mais feia,
num mergulho de infinito
tudo se pára bonito
e a geometria se alinha
sempre que o guaxo afocinha
ali no prender do grito!



Parece que ganha vida

na conflência das ruas
trazendo as lides charruas
para o meio da avenida
e, na expressão atrevida,
renascem gritos de farra:
há rasguidos de guitarra
de formação gauchesca
e a tonada barbaresca
dos ponteiros da "cucharra"!



Anda um quadro na mangueira

do tempo atrás removido
e os ares trazem o ruído
na saída da porteira;
revive a estirpe campeira
numa entonação pachola
e o laço se desenrola
soltado num sobrelombo
que chega a se ouvir o tombo
e a cantilena da argola!



Laço trançado de seis,

de quatro - como de oito,
sempre seguro e afoito
de acordo com as velhas leis,
no Continente dos Reys
o Laçador se destapa
e já faz parte do mapa,
do passado e do futuro,
no simbolismo mais puro
da nossa Terra Farrapa!



Com a vincha atando as melenas

esvoaçando contra o vento,
resnaces num monumento
de tirador e chilenas,
marcando as feições morenas
numa figura indelevel;
não há vendaval que leve,
não há progresso que apague
e nem dinheiro que pague
o que o Rio Grande te deve!



Tu nos fala - Laçador,

das lutas e pastoreios
das tropeadas e rodeios,
no bronze eterno e na cor,
revivendo o campeador,
mais duro do que o quebracho,
nessa pose de índio macho,
sabendo - de la do alto
que se arrancarem esse asfalto,
aparece grama em baixo!



Símbolo desta cidade,

num gesto de boas vindas 
olhando as linha infindas
que abraçam a imensidade,
és aprópria identidade
deste Porto dos casais;
não se extraviarão jamais
os xucros que derrubastes
nem os pialos que botastes
nas munhecas dos baguais!



Jayme Caetano Braum





Por: Lucas Pinho de Mello

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